quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Bilhar, disse ele



PLAC!!
As bolas estão dispersas sobre a mesa rectangular revestida a verde. O jogo começou. O triângulo foi desmontado, agora a estratégia e a imaginação tratam do resto. A bola branca é o carrasco do plano estratégico das jogadas que vão levar à vitória de um dos intervenientes. Com ela, sete bolas numeradas e de diferentes cores vão ser expulsas do jogo, depositando-se nos buracos que se encontram entre as tabelas, ficando apenas a bola preta à espera de ser protagonista na jogada final, que encerra o jogo. Durante todo este processo, um sem fim de angulações e de trajectórias estabelecidas, definem o jogo que se caracteriza pela constante visualização mental das movimentações pautadas, muitas vezes, por golpes de sorte ou simplesmente pela genialidade dos adversários. A sapata e o snooker, definem a vitória absoluta e a impossibilidade de progredir, respectivamente. O enredo continua, os choques e embates, os PLAC’s frequentes, definem a musicalidade arrítmica do desenrolar das tacadas que não podem, nem mandar a bola branca para fora da mesa, nem tocar com ela, antes do tempo, na bola preta. A penalização acontece e uma das bolas já expulsas volta a entrar no jogo.
O jogo da comunicação e da transmissão de mensagens através de diferentes canais e meios, resulta da imaginação e curiosidade, que definem as estratégias da bilhardice no que diz respeito às relações interpessoais. Quem nunca foi alvo de bilhardice e quem nunca bilhardou? Este factor aglutinante ou desagregador no âmbito do social, revela-nos que este aspecto não é sempre negativo, e às vezes até é saudável. Tal como no bilhar, os choques e confrontos entre as pessoas acontecem e traduzem-se num sem fim de trajectórias e movimentações.
A bilhardice, segundo o que o conhecimento empírico nos diz, é a reflexão e discussão colectiva da vida de terceiros e nunca acontece se for sobre coisas ou animais, e ninguém bilharda sobre si mesmo.
No contexto regional são vários os aspectos que se relacionam com esta temática sem, no entanto, se distanciar do contexto global. Em tempos considerados remotos, este fenómeno acontecia apenas no quotidiano urbano ou rural, nos adros das igrejas, junto aos fontanários, nos encontros fortuitos ou programados, nas reuniões familiares, a partir das janelas ou por detrás das bilhardas do tapassol. Actualmente a bilhardice alargou os seus horizontes e modernizou-se dispondo dos diferentes meios de comunicação, e é potenciada através de reality shows, revistas cor-de-rosa, talk shows matinais e vespertinos, inspirados na vida privada de celebridades.